“Leite é pus!!”
“As vacas são ordenhadas 24 horas por dia até a exaustão!!”
“Vacas apanham o dia inteiro para dar leite!!”
“Bezerros apanham e são mal cuidados nas fazendas!”
“Leite tem 30% de gordura!”
Está indignado? Pois então, é isso que se tem propagado sobre o leite!
Ultraje! Crime! Difamação! São nomes que podemos usar e berrar, mas, sinto muito, o nosso espernear não vai fazer essas pessoas pararem, por uma simples razão: notícia ruim e sensacionalismo vendem! O ser humano se sente atraído por catástrofes. Basta passar perto de um acidente de carro. As pessoas param, vão olhar, filmam. Para ajudar mesmo são poucos.
“Hayla, mas o que isso tem a ver com a gente que está na fazenda acordando cedo, 365 dias do ano, para ordenhar nossas vacas, lutando para que elas adoeçam menos, numa batalha diária para tratar menos vacas e descartar menos animais?” Eu te digo que tem tudo a ver! Nosso consumidor está sendo bombardeado dia e noite com esse tipo de frase que citei acima. Sei disso pois há alguns anos criei e administro o perfil @vaca_feliz_oficial no Instagram e já vi essas e outras frases em perfis de nutricionistas, médicos, educadores físicos, ativistas, artistas, enfim… pessoas de várias áreas que acessam o consumidor muito mais do que nós.
Nossa querida Anitta tem nada menos do que 48 milhões de seguidores no Instagram, Luisa Mel 3 milhões, Doutor Barakat 1.4 milhão, enquanto o movimento #bebamaisleite por exemplo tem 39 mil seguidores, eu tenho 8 mil. Deixo aqui meu aplauso de pé para a turma do Milkpoint, da Leite integral que fazem um trabalho incrível e tantos outros que estão nessa luta, mas você concorda que estamos apanhando de gente MUITO grande? Quando alguém popular assim fala mal do leite o impacto é gigantesco e o consumidor na gôndola do mercado vai começar a pensar se precisa mesmo do iogurte, de leite condensado, se deve fazer seu cappuccino com leite de vaca ou com “leite de amêndoa”. Queridos, para o consumidor infelizmente não importa se vem de tetas ou não, ele simplesmente absorve a informação que chega até ele. Aliás… ele só vai se questionar se nós mostrarmos que leite de vaca e “de amêndoa”, apesar de serem bebidas brancas, têm diferenças gigantescas em sua composição.
Algumas reflexões que temos de fazer: como está o consumo de leite? Aumentando? Diminuindo? O consumidor está pagando mais? Eu te diria que essa é a grande chave para que o preço do leite seja alto e que remunere você, que está aí na fazenda ralando todo santo dia. Espernear com o laticínio pode até ter uma parcela de ajuda a curto prazo, mas se nós como cadeia não pensarmos além, sinto muito. Não há laticínio que consiga segurar preço sem demanda.
Pense: Por que será que estão surgindo certificações de bem-estar animal? Por que marcas de leite mais naturais estão vendendo cada vez mais e com preço mais alto? Por que se discute tanto a questão do BST? Porque esses temas são pauta em mercados de outros países e vêm crescendo aqui cada dia mais? Pasme: 14% da população brasileira já se declara vegetariana! (Fonte: Ibope)
Está com a cabeça fervendo? Então cheguei no ponto que eu queria, pois é a partir desse desconforto que podemos pensar em parar de chorar e começar a realmente a agir. Você sabia que abrir uma rede social da sua fazenda é gratuito? Não temos nada que esconder certo? Então por que não mostrar um pouco mais das boas práticas? Tem preguiça? Sem problemas… Comece a colocar nas suas redes pessoais fotos bonitas das suas vacas, mostrando como elas são bem tratadas, como os bezerros são cuidados, em como você ama a atividade e como é importante para você. Se você for mostrando para as pessoas ao seu redor um pouco da sua rotina de cuidado com os animais, é natural que quando alguém escutar uma bobagem dessas venha até você verificar se a informação é correta. Entende? Conseguimos então fazer um movimento gigantesco sem grande alarde, silencioso, mas que firma o leite na ponta. Sem lobby, sem política, sem nenhum grande investimento. Inteligente, não é? E o melhor: gratuito! Lembre-se de que este conteúdo deve ser bonito, criativo e positivo.
O Brasil não sabe que já temos 2.000 barracões. O brasileiro não sabe do seu esforço para alimentar uma vaca bem e dar conforto a ela, muitas vezes mais até do que a si mesmo. O consumidor na ponta nunca foi numa fazenda e ele realmente acha que o leite surge numa caixinha! Talvez numa árvore de caixinhas! Rsrs
Veja o tamanho dessa proposta: somos quase 1 milhão de produtores no Brasil, cada um atingindo pelo menos 200 pessoas conseguimos mostrar para o Brasil de uma forma leve e construtiva porque o leite merece respeito e que pode ser consumido sem preocupação. Vou gravar nos próximos dias um curso sobre como usar redes sociais para fazendas e ficará disponível no Educapoint. Fiquem ligados, pode ajudar muito quem entende a importância disso!
Outra ideia de baixo custo é: por que não levar escolas da cidade mais próxima na sua fazenda? Não seria incrível que as crianças soubessem o que é agricultura, o que é vaca e que tudo que está na mesa delas saiu de uma fazenda? Será que é à toa que 100% do marketing do Mcdonalds é focado em crianças? Não! Crianças levam consigo tudo que vivenciam desde muito cedo. Elas serão os ativistas de amanhã ou serão os profissionais do campo. Está na nossa mão dar essa opção a elas. Tenho certeza que o agro seria mais respeitado.
Conclusão: conforto de vacas leiteiras é pauta e, como eu trabalho muito com isso, sei da genuína preocupação de norte a sul do Brasil em melhorar as condições dos animais para que vivam mais, sejam mais saudáveis e que produzam leite de qualidade, mas o nosso país não sabe disso. O nosso consumidor está sabendo de uma fofoca que vacas apanham dia e noite nas fazendas. Quem pode desfazer esse mal entendido? Informação de qualidade.
Fico por aqui sabendo que provoquei alguns e peço perdão se fui indelicada ou generalista, mas o recado é geral: precisamos nós cuidar da nossa imagem! Compartilhe isso com seus colegas produtores, discutam isso nas cooperativas, façamos um movimento mais construtivo.
Curte e comente se você viu sentido nisso tudo! Forte abraço!
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